*Semana Mundial de Amamentação*

Estamos na Semana Mundial de Amamentação, e mais uma vez venho escrever um pouco sobre o assunto.

Infelizmente, não tive a experiência utópica que esperava da amamentação, pelo contrário. Foi extremamente frustante. Já contei várias vezes, em vários lugares, como foi, o que aconteceu, mas acho que não é demais ressaltar a importância de insistir e ter apoio quando tudo não corre às mil maravilhas. Afinal, nem sempre a vida é igual àquele cartaz lindo de campanha de amamentação…

Me perdoem as leitoras antigas, que já sabem de cor e salteado a minha história…

“Há dez anos, eu achei um “carocinho” no meu seio esquerdo e “exigi” da minha médica um ultrassom. Ainda lembro as palavras dela: “você tem displasia mamária, não precisa se preocupar. As suas glândulas são grandes e acabam dando a impressão de caroço, mas isso é bom. Quando você tiver um bebê, ele não vai passar fome”.

Imagine a minha decepção quando, pouco mais de uma semana depois de ter minha filha, tive que inserir complemento (ou melhor, o complemento acabou sendo o meu peito), porque a Isadora estava perdendo peso a cada dia e na ordenha de quase duas horas saía apenas 5ml de leite do meu peito. Foi um baque descobrir que a minha filha estava, literalmente, passando fome. Também foi frustante quando, com apenas dois meses, ela simplesmente se recusou a mamar em mim…

Quando ela tinha mais ou menos um mês, fui ao posto de saúde para vaciná-la. Lá, vi um cartaz imenso da campanha de aleitamento, e a frase: “mudança na alimentação do seu filho, até os seis meses, só de um peito pro outro”.

Pensei: “amamentar não é tão simples assim, porque as campanhas não colocam os possíveis problemas e incentivam as mães a solucioná-los? Por que não falam que os bancos de leite ajudam e orientam, gratuitamente, as mães que têm problemas no aleitamento?”. Conheço várias pessoas que ficaram surpresas quando eu contei que fui ao Banco de Leite procurar ajuda! Nem sabiam que existia!

O mais estranho é que eu sempre ouvi que o “corpo produz exatamente a quantidade de leite que o bebê precisa”, nas famosas campanhas de incentivo ao aleitamento. Isso é verdade? Absolutamente não. Ninguém explica que o emocional interfere e muito na produção de leite. Se a mãe não descansar o suficiente, não se alimentar bem e não beber bastante líquido, ficar 24 horas por dia preocupada com o bebê (como aconteceu comigo) o corpo não vai conseguir produzir a quantidade de leite suficiente para alimentar o bebê.

A frase da campanha, na minha opinião, é simplória demais para definir algo tão sério e complicado como amamentar. E mais, ela frustra as mães que precisam usar complemento. Não é difícil a mulher pensar, com eu também pensei: “sou uma inútil mesmo, não consigo nem alimentar meu filho”.

Cheguei à conclusão que, na verdade, as mães acabam desistindo de amamentar por causa disso, por falta de orientação e de apoio. Eu sabia que era mais fácil dar o leite artificial, assim minha filha não passaria fome e eu não me frustraria todas as vezes que ela mamava e ficava insatisfeita…”. Sabia disso sim e não tenho vergonha de afirmar. Mas continuei insistindo na amamentação até onde pude.

Pode parecer drama de “mãe judia”, mas para mim foi muito difícil tudo isso. Hoje falo com mais tranqüilidade, mas na época sentia vergonha, inveja das mães que amamentavam… Adorava dar o peito para a Isa, mas a cada dia aquilo se tornava mais difícil para mim e para ela.

Confesso que, ainda hoje, quando vejo uma mãe amamentando seu bebê, me dá um aperto no coração. Um sentimento estranho, como se “tivesse faltado alguma coisa”. É difícil explicar. É um misto de culpa e desapontamento. Desapontamento por não ter conseguido e culpa por não ter tentado mais.

Mas eu tentei. Como eu tentei! Tudo que falavam eu fazia: plasil, Leitina, bombinha, tudo, absolutamente tudo. Mas nada de leite!

Quando ela não quis mais o peito, de jeito algum, lembro das exatas palavras da pediatra: “Você tentou tudo o que podia, chegou ao seu limite. Não foi uma escolha sua, não foi você que tinha o peito cheio de leite e recusou dar pra ela. Se toda mãe insistisse como você, teríamos muito mais crianças amamentadas…”

A questão é: amamentar não é fácil. Não é só colocar o bebê no peito e pronto. Por passar por tantos problemas, senti na pele as dificuldades.Agradeço por ter tido apoio da pediatra, do Banco de Leite (que muita gente nem sabe que existe) e da minha família.

Mas ainda me pergunto cadê as campanhas que explicam que amamentar pode sim ser difícil, complicado, que incentivam as mães com problemas a procurarem ajuda? Isso para mim é o mais importante, algo como: “Mãe, não desista! É difícil, mas tem quem possa ajudá-la”.

Enfim, por tudo que passei, descobri que amamentar é um ato de amor, mas também de coragem. É uma batalha diária, muitas vezes, onde nem sempre saímos vitoriosas. E se perdermos, pelo menos, teremos a consciência de que lutamos até o fim”.

*Vale a pena ler a reportagem da Revista Pais e Filhos desse mês.

comments

Um Comentário

  1. Joana
    out 07, 2010 @ 12:17:12

    Sei o que é isso. Me sinto exatamente como você. Tenho vergonha e sentimento de menos valia. Não tive nenhuma gota de leite e me sinto culpada por isso até hoje. Choro copiosamente sempre que vejo uma mãe amamentando.