*Espírito Natalino*


(foto by Isadora)

Chegou aquela época do ano em que todo mundo enfeita a casa com luzinhas, monta a árvore de Natal, compra presentes e fala que está contagiado pelo espírito natalino.

Então. Eu não sinto isso. Não mais. Quando eu era criança, era a época do ano que eu mais esperava, não só por causa do presente, das luzes e dos enfeites, mas por causa do tal do espírito natalino mesmo.

É difícil explicar, mas o ar mudava, as coisas, as pessoas mudavam para melhor perto do Natal. Todo mundo se importava mais, ajudava mais… Ou assim eu enxergava.

Hoje não tenho mais essa ilusão.

Nessa semana que passou, veio à público o caso de uma yorkshire espancada até a morte pela dona, na frente da filha de 2 anos, e tudo foi filmado por vizinhos e postado no youtube.

Graças às redes sociais que divulgaram o vídeo (que eu não tive coragem de assistir e nem tampouco vou divulgar link, porque não faz bem nenhum assistir), em pouco tempo se descobriu quem era a vagabunda autora das agressões.

E óbvio, o caso chocou e comoveu o país. E depois de tantos casos de maus tratos a animais divulgados em tão pouco tempo (de cabeça, me lembro de uns 4 no último mês), as pessoas se mobilizaram para alterar a lei para que as penas sejam mais rígidas nesses casos.

Aí, me vem desocupado escrever que ao invés de as pessoas se mobilizarem por isso, deviam é fazer alguma coisa contra as agressões cometidas a seres humanos.

Oi?

Essa gente tem que entender que não foi o fato de ter acontecido com um cachorro que mais chocou as pessoas. Foi a violência gratuita a um ser indefeso. Se fosse a filha, se fosse um idoso, ou um paciente da agressora, todo mundo ficaria chocado da mesma forma.

Mas, por outro lado, tenho uma pergunta pra quem fala essa baboseira de ter que proteger ser humano e não animal: já ouviu falar de Código Penal, Lei Maria da Penha, Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e do Adolescente, caro ignorante?

Todas essas leis garantem os direitos dos seres humanos, enquanto que para os animais, sobra a porcaria pobre e ineficaz Lei de Crimes Ambientais.

Aliás, abro um parênteses que uma das coisas que mais me irritam no mundo é gente que critica a causa animal com o seguinte argumento: “ai, mas tem tanta criança abandonada, passando fome, vai se preocupar com bicho?”.

Por que isso me irrita profundamente? Porque quem fala isso é hipócrita.

Nunca acolheu uma criança de rua, nunca visitou uma asilo de idosos, um hospital que trata câncer infantil ou um instituto para crianças especiais. Na verdade quem fala isso sequer fez uma doação para alguma instituição de caridade na vida. Fala por falar. Critica por criticar.

Sabe por que eu sei?

Porque quem é engajado em uma causa, seja qual for, não critica a causa alheia, porque tem consciência que toda forma de vida é importante, seja um animal ou um ser humano.

Quem está empenhado em ajudar o mundo de alguma forma, sabe que, o que importa, é estar fazendo algo para melhorá-lo. Porque se muda o mundo assim, ajudando uma vida de cada vez.

Então, ao invés de criticar, as pessoas deviam se engajar em uma causa, seja ela qual for. Ao invés de desfiar hipocrisia, de ficar desmerecendo o empenho alheio, deveriam agir, ajudar o mundo a ser um lugar um pouquinho melhor, de alguma forma.

Porque, no final das contas, o que realmente importa é ajudar a fazer a diferença para uma vida que seja. Isso é o espírito natalino. Em qualquer época do ano.

“O Natal não é um momento, nem uma estação, senão um estado da mente. Valorizar a vida.” (Desconhecido)

UPDATE 19/12: Aqui nesse link tem uma reportagem resumindo os casos de maus tratos a animais que ocorreram recentemente e também sobre como a atual legislação é branda e inócua.

UPDATE 22/12: E aqui a prova de que a Lei de Crimes Ambientais não serve pra nada, a não ser apoiar a impunidade.

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