*Quando foi que o mundo virou esse lugar chato?*

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Ando me perguntando isso, principalmente quando se diz respeito à infância.

Porque as pessoas resolveram que agora tudo tem que ser politicamente correto saudades, TV Pirata e ter um conteúdo didático/psicopedagógico/nutricional/emocional, senão as crianças não podem ver/ler/fazer/comer.

Não existe mais assistir programa bobo de TV porque é um programa bobo de TV. Não existe mais ler um gibizinho porque é um gibizinho. Não existe mais comer uma porcaria porque é uma porcaria.

Tudo o que a criança assiste/lê tem que ser educativo, ter conteúdo e profundidade, absolutamente tudo. Aquele canal e/ou aquele programa não pode, porque olha o tanto de propaganda, e as mensagens comerciais subliminares, a criança tem que viver livre de consumismo e blablablazzzzzzz….

Desculpem, mas isso tudo é muito chato.

O caminho da sublimação materna/paterna, aparentemente, é abolir todo e qualquer programa de TV, revistas e gibis, livros da Disney, brinquedos manchados pelas grandes corporações, proibir amizades, porque assim suas preciosas crianças não serão maculadas pela mancha do capitalismo selvagem consumismo.

Mas, pera… será que as propagandas infantis que bombardeiam nossas crianças são (des) privilégio da geração dos nossos pequenos?

Será que só agora apareceram os comerciais para comprar as 85 Barbies Sereia no Mundo dos Unicórnios (vendidas separadamente) nos intervalos dos programas infantis?

Bom, eu lembro perfeitamente dos idos dos anos 80 dos comerciais de Barbies, Suzies, Quem-me-Quer, Bebezinhos, Moranguinhos, Fofoletes, Genius e Ataris da minha infância, enquanto eu assistia Tom & Jerry, Pica-Pau, Popeye…

Ou seja, publicidade sempre existiu. E sempre vai existir, isso não é novidade nenhuma.

Então… também lembro, perfeitamente, das conversas com meus pais, que me explicavam a viabilidade ou não de comprar o brinquedo x que eu tinha visto na TV, ou que minha amiga tinha ganhado. E eu entedia que não ia ter tudo que via. E não é assim que deveria ser?

Abro um parênteses para contar a história dos malditos Pokemons. Pra mim, isso já tinha acabado há anos, mas eis que Isadora chega da escola um dia, com cartinhas ganhadas de amigos, e pede para comprarmos pra ela. Como é uma brincadeira coletiva, concordamos, e agora ela troca as tais cartinhas repetidas com os colegas de classe. Mas a questão é que ela só ficou sabendo da existência dos Pokemons pelas outras crianças, não pela amaldiçoada TV. Ou seja, não dá pra colocar seu filho numa bolha. Fecha parênteses.

Bom, mas aí, li uma apoiadora de um desses sites de movimento xiita infância livre de alguma coisa ~esclarecendo~ num texto que não é a quantidade de bens que você tem que define o consumismo, e sim sua cabeça.

Ué, fiquei um pouco confusa… Então essas mães/pais, assim como eu, não deveriam estar preocupados em EDUCAR seus filhos a fazerem escolhas certas, independente da pressão da sociedade? Não deveriam ENSINAR as crianças que nem sempre elas podem e vão ter tudo que querem na vida, mesmo que o amigo tenha, que passe na TV, que esteja num outdoor ou num avião com uma faixa?

Mas o que é mais fácil politicamente correto? Condenar a sociedade capitalista através da internet, essa mágica ferramenta de protesto e jogar a responsabilidade do consumismo desenfreado nas costas dos anunciantes/TV/escola, alienando a criança de tudo que pode desvirtuá-la, ou ensiná-la a fazer suas próprias escolhas, a pensar com sua própria cabeça e entender que não pode ter tudo sempre (porque, desculpa acabar com a ilusão de vocês, mas a vida funciona assim)?

A resposta veio de Isadora, prestes a completar 9 anos, numa conversa informal durante uma manhã normal em casa:

– Isa, dá uma maneirada nos pedidos de coisas aleatórias. Filtra um pouco. Veja se você realmente precisa daquilo, ou se quer muitooooo, antes de pedir.

– Mãe!! Deixa eu!! Eu peço, você fala não e pronto!

Mais bem resolvida que muito adulto por aí.

*** Para ler e refletir: texto da mana Lu Brasil que fala umas verdades pra esse mundo tão chatinho.



Valéria Barbieri é advogada, mãe de ICSI da Isadora, odeia radicalismos/fanatismos/xiitismos, é irônica, sarcástica e main de cesárea que levou a filha para a meca do consumismo Disney no seu aniversário de 8 anos, deixou ela assistir Carrossel e ter Monster High

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